Em meio a tantas continuações, remakes e reboots que são lançados, é admirável que um filme como “O Homem do Norte” consiga ter o apoio de um poderoso estúdio de Hollywood, a ponto de ter astros consagrados em seu elenco. O filme estreia nesta quinta-feira (12). O longa apresenta, de forma épica, uma história de intriga e vingança da cultura nórdica.
Assista ao trailer do filme “O Homem do Norte”
Ambientada no século 9, a trama acompanha a vida do príncipe Amleth (Oscar Novak na juventude e Alexander Skarsgård quando adulto), filho do Rei Aurvandil (Ethan Hawke) e da Rainha Gudrún (Nicole Kidman), que tem sua vida virada do avesso quando seu tio, Fjölnir (Claes Bang), decide dar um golpe e usurpar o trono. O jovem consegue fugir e jura se vingar da traição.
Anos depois, Amleth entra para uma tribo de bárbaros e se torna um guerreiro nômade. Até que, após ter um encontro com a feiticeira Seeress (Björk), descobre que Fjölnir está com sua mãe e sua família numa região distante da Islândia e resolve ir para lá, disfarçado de escravo. No caminho, conhece Olga (Anya Taylor-Joy), uma bruxa que acaba ajudando o príncipe em seu plano de vingança.
Alexander Skarsgård e Anya Taylor-Joy numa cena de “O Homem do Norte” — Foto: Divulgação
A produção conta com uma parte técnica impecável. Mas o principal mérito vem da ótima direção de Robert Eggers, com estilo próprio e original de contar histórias, tendo apenas três filmes em seu currículo (os outros são “A Bruxa” e “O Farol”).
Agora, com um orçamento bem mais generoso, o cineasta americano se arrisca em sequências ainda mais arrojadas e poderosas, em um verdadeiro deleite visual.
Além de dirigir, Eggers divide o roteiro com o escritor irlandês Sjón e mostra que mergulhou nos costumes vikings para contar a sua história, que teria inspirado Shakespeare a criar “Hamlet”. Um dos destaques da trama é notar as semelhanças dramáticas entre as duas obras.
“O Homem do Norte” possui intensas e elaboradas cenas de ação e combate — Foto: Divulgação
É bem curioso ver como Eggers faz suas cenas de ação com vigor, principalmente combates com espadas e no corpo a corpo. As imagens impactantes não poupam o público da violência gráfica.
Algumas delas lembram “Conan, o Bárbaro”, estrelado por Arnold Schwarzenegger em 1982. Em entrevistas, o diretor confessou a inspiração.
Elas entram em equilíbrio com os momentos mais contemplativos, em que fica ainda mais notório o estilo que o diretor implementa, com uma atmosfera que causa desconforto e até tensão, nem sempre deixando claro para o público o que pode vir a seguir.
A cantora Björk interpreta uma feiticeira em “O Homem do Norte” — Foto: Divulgação
O longa trabalha em materializar o que o protagonista está pensando e faz o espectador ter, às vezes, a sensação de confusão que a mente dele pode ter: o desejo de se vingar acaba deixando-o sem enxergar as coisas como deveriam ser.
Isso acaba gerando cenas oníricas, com divindades nórdicas como o Deus Odin, as valquírias e até Valhalla, o local para onde os nobres guerreiros vão no final de suas vidas.
O porém de “O Homem do Norte” é o ritmo, que pode desagradar. O diretor não entrega soluções fáceis de um típico filme deste gênero.
Ele propõe uma reflexão a respeito dos atos de seus personagens, deixando algumas cenas mais lentas, em detrimento de outras mais agitadas e longas. Quem esperar um filme com ação incessante pode se decepcionar.
Amleth (Alexander Skarsgård) vira um guerreiro nômade em “O Homem do Norte” — Foto: Divulgação
Além da direção e da parte técnica vale destacar a entrega dos atores à proposta do filme. Skarsgard convence ao mostrar a selvageria do personagem. Nicole Kidman, que curiosamente interpreta a mãe do protagonista depois de ter feito um casal com Skarsgard na minissérie “Big Little Liars”, vai ganhando importância à medida que a trama avança. A atriz aproveita isso para desenvolver muito bem os momentos dramáticos da rainha.
Anya Taylor-Joy, que se tornou uma estrela graças a “A Bruxa” (e, mais tarde, na minissérie “O Gambito da Rainha”), volta a mostrar todo o seu talento como Olga. A química com Skarsgard é boa. Ethan Hawke, que já foi Hamlet em um filme de 2000, se sai bem fazendo o rei Aurvandil.
Nicole Kidman vive a Rainha Gudrún em “O Homem do Norte” — Foto: Divulgação
Willem Dafoe, excelente em “O Farol”, marca presença como Heimir, uma espécie de bobo da corte do reino. Já Claes Bang não compromete, mas não chega a ser marcante como o vilanesco Fjölnir.
“O Homem do Norte” já vale a ida ao cinema só pelo fato de querer apresentar um universo que tem sido pouco explorado na tela grande. É um filme robusto e profundo, que busca levar a uma reflexão sobre como os humanos são complexos e como eles podem ser dominados por sentimentos ruins.
Essa mensagem aparece envolta em uma cultura diferente e embalado com momentos chocantes e sangrentos, que impressionam, mas também são sublimes.